quarta-feira, 2 de abril de 2008

o que há de poético num batom perdido

Hoje eu tava no ônibus voltando do trabalho (ou indo para, já que em tempos de TCC não existe mais lugar de descanso) quando a minha visão periférica de mulher percebeu algo pequeno e escuro indo rapidamente em direção ao meu pé. Não era uma barata, mas está igualmente envolvido com o psicológico feminino: era um batom. Que veio a toda velocidade bater no meu pé, como se quisesse me cutucar pra chamar a atenção. Compreensível.

Achei aquilo ótimo. Comecei a divagar sobre como aquele objeto foi se perder naquele ônibus, há quanto tempo e por quem. Cheguei até a pensar que alguma pessoa muito mal-educada tivesse o deixado ali de propósito, como se fosse lixo. A hora que ele rolou pra cima de um papelzinho de bala dava mesmo uma cara de dejeto pra ele. Coitado.

Não podia ter sido jogado fora, porque ainda tinha muito pra ser usado daquele batom. Mas pela aparência gasta e empoeirada da embalagem, devia fazer tempo que ele tinha sido perdido. "Alguém perdeu um batom", disse a moça que estava do meu lado na hora que ele foi cutucá-la também. Não é à toa: além de gasto e empoeirado, via-se que era um daqueles bem vagabundos. Porque ninguém perde um batom da Claude Bergère. Mas um batom de plástico preto com capinha transparente, assim, sem marca, cai da bolsa fácil.

E ele ficou ali, indo e vindo a cada brecada, e eu fiquei ali olhando pra ele. Talvez ele nunca tivesse tido tanta atenção. Será que era de uma prostituta? A gente sempre tende a achar que essas coisas são de prostituta. Batom, esmalte, camisinha perdidos... Que preconceito... eu até usaria aquela cor (fosse num Claude Bergère), e não sou prostituta. Será que limpam esse ônibus? Será que ele estava escondido em algum vão durante a faxina? Será que ele carregava uma legenda partidária?

Tanto faz. Mas acho que eu dei uma razão de ser praquilo. Esse "ir e vir" do objeto abandonado foi o que mais de interessante aconteceu nas últimas 8 horas do meu dia, que tendem a piorar. Até fui mais com a cara desse batom aí do que aquele que eu passo todo dia antes de ir trabalhar, e olha que é da Natura. Se é que você entende como a cabeça tá bem mais leve.

5 comentários:

Rodrigo van Kampen disse...

Achei legal o texto. Mas acho que eu precisaria ser mulher para entendê-lo com mais profundidade...

De qualquer modo, foi uma boa distração à aula infernal do Nick....

Anônimo disse...

vc JÁ ta fazendo TCC? menina, o tempo voa ne?

Silvia Ferreira disse...

Adooooooooooooooro!

Fernanda Miguel disse...

neguinha....vc é foda!

wendell penedo disse...

Uma vez um garoto vomitou no meu pé, dentro o ônibus. Rolavam pedaços de salsicha com sucrilhos. Pensei, ok, o lazarento comeu sucrilhos, afinal eram umas 6 da manhã, mas e a salsicha? Nunca descobri...