Gente, é um post longo e aconselho lerem depois de ver o filme, assim é mais fácil comentar, nem que seja "Julia, sua louca, nada a ver".
Se você ainda não viu o filme e não quer perder a viagem, segue este link. Entrevista com Fernando Meirelles sobre o filme. É legal. (juro q tentei postar direto, mas n deu)
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Ontem fui ver Ensaio Sobre a Cegueira. Ainda estou perturbada.
Um daqueles filmes que você sai e precisa pensar um pouco pra digerir. De cara pensei que talvez o Meirelles não devesse tirar a narração, para atender propósitos comerciais. Demora um pouco pra você tirar algumas conclusões. Mesmo sem ter estas conclusões, não podia ignorar aquilo que o Meirelles (ou Saramago) nos faz ver. Daí sentamos pra tomar um chopp e conversarmos sobre. Tudo bem que aquilo não era lá um assunto pra conversar tomando um chopp, mas vamos começar sendo um pouco mais light, certo?
O Bruno, meu personal scientist, me disse que a visão é o sentido mais importante do ser humano porque ele é o que ocupa uma maior parte do cérebro e transmite mais informação. Ele também reparou como, mesmo em uma anarquia, as organizações se iniciam espontaneamente. Daí lembrei do big bang do homem moderno e de como o nós precisamos nos estruturar em sociedades para evoluirmos, e tatatá.
Mas pensando na moral... como é uma tentação você ser desprovido de moral quando ninguém vê o que você faz o tempo todo. É como se não houvesse juízo de valor. Percebam a luta pra que essa moral exista. Perceba o médico. O médico tenta ser íntegro desde o começo, mas nem ele consegue. Nem o mais dos íntegros. Essa é a cegueira. É uma cegueira que no fim, acaba protegendo as pessoas de si mesmo, de seu superego.
Chopp já findado, chega um casal de amigos e se juntam à nossa agora rodinha. Vê mais uma rodada aí. Eles não viram o filme, então a conversa se alonga para outros. Odiaram Mamma Mia. Não sabiam que era musical. Acharam estranho aquelas pessoas começarem a cantar no meio de uma cena, o chão se abrir em flores, etc. Um sorvete e uma carona pra fechar. Depois da pizza em casa, Bruno dorme. Não consigo parar de pensar no filme. Na TV, começa um programa sobre a II Guerra Mundial na Record News. Bora ver.
Foram 6 milhões de judeus exterminados. Somente em Auschwitz, foram gastos mais de 5 toneladas de gás letal. Eram necessários 5 quilos por vez (faça as contas). Eles eram levados às câmaras achando que iam tomar banho. Quando o exército francês chegou neste campo de extermínio, encontrou uma população de 7 mil judeus que sobreviveram não se sabe como. O menos esquálido pesava 35 kg... Na Normandia, após o dia D, foram registradas 800 mil baixas. 300 mil japoneses morreram com as bombas nucleares. O saldo total desta Guerra foi de 60 milhões de mortos.
É possível enxergar moral na guerra? Uma cegueira revisitada. A guerra deixa as pessoas cegas. Na verdade, muitas coisas deixam as pessoas cegas. Outra da TV: fizeram um teste pra ver quão violento um bairro é em Buenos Aires. Deixaram uma bicicleta solta na rua e viram quanto tempo demorava pra alguém levar. Não me lembro quanto levou o “menos violento”, mas foi no máximo 1 hora. Tinha que vem a cara de pau do sujeito levando a bike como se super fosse dele. De novo a cegueira. Ele tava invisível no meio dos transeuntes.
Fico passada com essas coisas. Porque aí existe outra cegueira: a de não enxergar as coisas acontecendo à nossa volta. A minha cegueira, do alto do meu oitavo andar, da minha pizza de atum, do meu chopps no shopping center. Nós também estamos protegidos pela cegueira. Quanta imoralidade existe na omissão? Talvez não seja uma guerra ou a concentração de renda que nos deixam cegos, talvez nos já o sejamos.
Voltando ao filme, fico imaginando a Mulher que Enxergava. Ela vendo tudo aquilo. No livro ela diz que preferia estar cega. Acho que o objetivo do filme talvez seja deixar-nos um pouco mais próximos daquela Mulher.
Outra reflexão do filme, agora sobre liderança: uma ala era liderada por uma pessoa que enxergava, outra tinha um Reizinho sem escrúpulos ajudado por um cego nato (portanto, melhor cego do que os outros). Em terra de cego, quem tem um olho é rei, né não?
Trecho do livro que peguei daqui mesmo :D
"Lutar foi sempre, mais ou menos, uma forma de cegueira, Isto é diferente, Farás o que melhor te parecer, mas não te esqueças daquilo que nós somos aqui, cegos, simplesmente cegos, cegos sem retóricas nem comiserações, o mundo caridoso e pitoresco dos ceguinhos acabou, agora é o reino duro, cruel e implacável dos cegos, Se tu pudesses ver o que eu sou obrigada a ver, quererias estar cego, Acredito, mas não preciso, cego já estou, Perdoa-me, meu querido, se tu soubesses, Sei, sei, levei a minha vida a olhar para dentro dos olhos das pessoas, é o único lugar do corpo onde talvez ainda exista uma alma, e se eles se perderam"
domingo, 12 de outubro de 2008
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3 comentários:
eu não li o post todo pq eu quero ver o filme pra poder "dialogar" com ele (o post)
mas não posso deixar de comentar: personal scientist é uma definição incrivel para o bruno...
(cuida bem desse moço...e se um dia for jogar fora, manda na minha lixeira...)
hahahahahahah
é por essas e por outras que eu amo vc!
beijos
A cegueira tem inicio quando o bebê abre os olhos pela primeira vez. Eu, por exemplo, se pudesse teria nascido vendado. É a minha natureza.
Ô Julha! É a vez do seu blog virar moribundo e sobreviver com a ajuda de respiradores?
Eu acho que você devia atualizar.
E eu acho que eu devia assistir esse filme logo de uma vez. Tô começando a ficar com vergonha heheh
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